Saúde Mental e Imigração

Como a ansiedade afeta a vida dos brasileiros no processo migratório

por Prô Mundo Psicologia | maio 28, 2025
Como a ansiedade afeta a vida dos brasileiros no processo migratório

Olá, imigrantes!

A ansiedade se tornou uma das questões mais urgentes de saúde mental. A pressão constante para dar conta das demandas diárias, as incertezas geradas por crises econômicas e políticas e as mudanças rápidas em nossa forma de viver têm gerado uma crescente sensação de insegurança em muitas pessoas ao redor do mundo. No mundo todo a ansiedade tem se intensificado, afetando uma parcela significativa da população.

Mas além do aumento global dessa condição, um dado específico chama a atenção. De acordo com o último grande mapeamento da OMS, o Brasil é o país com a maior prevalência de transtornos de ansiedade do mundo.

E para os brasileiros que enfrentam o processo migratório, os desafios são ainda mais intensos.

No artigo de hoje vamos entender um pouco mais sobre a ansiedade no Brasil, suas causas e suas repercussões no processo migratório, além de sugerir estratégias para você, imigrante, lidar com esse problema tão comum, mas muitas vezes mal compreendido.

O que é ansiedade e como ela se manifesta?

A ansiedade é uma resposta natural do corpo a situações de perigo ou estresse. Ela surge quando o cérebro percebe que algo está fora de controle e pode colocar nossa segurança ou bem-estar em risco.

Em um nível biológico, a ansiedade é mediada pela liberação de hormônios como a adrenalina e o cortisol, que preparam o corpo para reagir a ameaças, seja enfrentando uma situação difícil ou fugindo dela.

O problema é que quando a ansiedade se torna constante e irracional, ela pode se transformar em um transtorno, prejudicando a qualidade de vida das pessoas.

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

O Transtorno de Ansiedade Generalizada é caracterizado por uma preocupação excessiva e persistente com diversas situações da vida, mesmo na ausência de um motivo real ou proporcional. Os sintomas duram pelo menos seis meses e afetam diretamente o funcionamento diário do indivíduo.

Sintomas comuns:

  • Preocupações constantes e incontroláveis
  • Fadiga, irritabilidade
  • Tensão muscular
  • Dificuldade de concentração
  • Distúrbios do sono

Fonte: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5).

Transtornos de Pânico

O transtorno de pânico é uma condição de saúde mental caracterizada por ataques de pânico inesperados e recorrentes, acompanhados por um medo intenso e repentino que atinge o pico em poucos minutos. Esses episódios podem ocorrer sem um gatilho claro e frequentemente geram uma preocupação constante com a possibilidade de novos ataques, criando um ciclo de ansiedade antecipatória.

Os ataques são episódios agudos de intenso desconforto físico e emocional, geralmente seguidos por mudanças comportamentais — como evitação de lugares ou situações — por medo de desencadear novos episódios. A frequência e a gravidade dos sintomas variam entre os indivíduos.

Sintomas comuns durante as crises, conforme o NCBI:

  • Taquicardia ou palpitações
  • Suor excessivo
  • Tremores ou estremecimentos
  • Sensação de falta de ar ou sufocamento
  • Dor ou desconforto no peito
  • Náusea ou desconforto abdominal
  • Tontura ou sensação de desmaio
  • Sensações de desrealização ou despersonalização
  • Medo de perder o controle, “enlouquecer” ou morrer

Segundo o StatPearls – NCBI, a prevalência do transtorno de pânico ao longo da vida é estimada entre 2% e 3% da população geral. É mais comum em mulheres do que em homens, com início típico no final da adolescência ou no início da vida adulta. Cerca de 30% dos pacientes com transtorno de pânico também desenvolvem agorafobia, caracterizada pela evitação de lugares onde escapar possa ser difícil em caso de um ataque.

Fonte: StatPearls – NCBI ****(2023)

Mulher no meio de muitas pessoas apresentando transtorno de pânico

Fobias Específicas

Fobias são medos intensos, irracionais e persistentes diante de objetos ou situações específicas — como altura, voar de avião, animais ou espaços fechados. Mesmo que a pessoa reconheça que o medo é desproporcional, ela evita a situação a todo custo.

Sintomas comuns:

  • Ansiedade intensa ao se aproximar do estímulo fóbico
  • Palpitações, sudorese
  • Sensação de perda de controle
  • Reações físicas automáticas como fuga ou congelamento

Referência: Estima-se que 10% da população mundial apresente algum tipo de fobia específica em algum momento da vida (OMS, 2017).

Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)

O TOC é marcado por obsessões (pensamentos intrusivos, indesejados e angustiantes) e compulsões (comportamentos repetitivos que visam neutralizar esses pensamentos). As compulsões oferecem alívio temporário, mas reforçam o ciclo do transtorno.

Exemplos comuns:

  • Obsessão com limpeza e contaminação → lavar as mãos excessivamente
  • Medo de causar dano → checar portas ou fogões repetidamente
  • Simetria e organização → alinhar objetos de maneira exata

Fonte: O TOC atinge cerca de 2% da população global, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Estudos apontam início frequente entre os 15 e 25 anos, com impacto significativo na qualidade de vida (Stein et al., 2019).

Além disso, fatores biológicos, como uma predisposição genética, e fatores ambientais, como estresse contínuo ou traumas, podem contribuir para o desenvolvimento desses transtornos.

O crescimento da ansiedade no mundo

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 264 milhões de pessoas em todo o mundo convivem com transtornos de ansiedade. Esse aumento tem sido causado por uma série de fatores, sendo o principal deles o estilo de vida moderno, marcado pela aceleração das interações, das decisões e do trabalho.

O estresse crônico, a competitividade excessiva, as incertezas políticas e econômicas, além da constante comparação impulsionada pelas redes sociais, são alguns dos fatores que têm elevado as taxas de ansiedade em diversas partes do planeta.

As estatísticas também mostram que o transtorno de ansiedade é a condição de saúde mental mais comum, afetando não apenas adultos, mas também adolescentes e até crianças. Isso está diretamente relacionado ao ritmo acelerado da vida moderna, com expectativas de produtividade cada vez mais altas e uma sociedade que valoriza a eficiência e a realização pessoal em todas as áreas.

A busca constante por “ser mais” acaba levando grande parte da população a experimentar altos níveis de ansiedade.

A ansiedade no Brasil

O Brasil se destaca como um dos países com os maiores índices de transtornos de ansiedade. De acordo com a OMS, mais de 9 milhões de brasileiros sofrem com esse transtorno. Esse cenário é agravado por uma combinação de fatores sociais, econômicos e culturais. A desigualdade social, a violência urbana e o estresse causado por esses fatores são elementos que potencializam a ansiedade no Brasil.

Não podemos esquecer que, em um país como o Brasil, as dificuldades socioeconômicas afetam diretamente a saúde mental da população. As preocupações diárias com a falta de recursos, insegurança financeira e a constante pressão para dar conta das responsabilidades acabam sendo catalisadores para o desenvolvimento de quadros de ansiedade.

Além disso, o Brasil ainda enfrenta um grande estigma relacionado ao cuidado com a saúde mental. Muitas pessoas, especialmente nas classes mais baixas, não têm acesso a tratamentos adequados, como psicoterapia, e enfrentam barreiras culturais que dificultam o reconhecimento e a busca por ajuda profissional.

Esses fatores combinados criam um ambiente onde a ansiedade pode se agravar e se tornar uma condição crônica. A falta de compreensão sobre a importância da saúde mental, a ausência de políticas públicas eficazes e o medo do julgamento social ainda impedem muitas pessoas de procurar ajuda. Com isso, o Brasil continua enfrentando altos índices de transtornos de ansiedade, com um número crescente de pessoas que sofrem em silêncio.

Ansiedade e o processo migratório

Mudar de país é uma experiência que pode ser carregada de sonhos, mas também de desafios emocionais intensos. Para muitos brasileiros, o processo migratório desperta sentimentos profundos de ansiedade, que vão além do nervosismo comum diante de uma nova fase da vida.

A adaptação a uma nova cultura, o aprendizado de outro idioma, a distância da família e dos amigos, e a busca por segurança financeira são fatores que podem gerar um peso emocional considerável.

É natural que, diante de tantas mudanças, surjam inseguranças e medos. A sensação de estar fora do seu lugar de origem, de precisar recomeçar do zero, pode ser avassaladora em alguns momentos. É importante lembrar: sentir-se assim não é sinal de fraqueza, mas parte do processo de adaptação.

O choque cultural, as dificuldades para encontrar trabalho, o isolamento social e as barreiras burocráticas também podem intensificar a ansiedade. Por isso, acolher esses sentimentos com gentileza e buscar apoio são passos fundamentais para atravessar essa fase de maneira mais leve.

Entender que a ansiedade faz parte da experiência migratória, e pode ser gerenciada, é um passo importante para construir um novo caminho com mais tranquilidade e bem-estar.

Mulher com as mãos no rosto com crise de ansiedade

Dicas para lidar com a ansiedade no processo migratório

Lidar com a ansiedade no processo migratório é um desafio enorme para muita gente, mas existem várias estratégias que você pode adotar para gerenciar seus sintomas e promover seu bem-estar emocional durante essa fase de transição.

Busque ajuda profissional

A psicoterapia é uma das formas mais eficazes de tratar a ansiedade. No caso dos imigrantes, é importante procurar terapeutas que compreendam as particularidades da experiência migratória, como as psicólogas da Prô Mundo. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem muito utilizada no tratamento da ansiedade, pois ajuda a identificar e modificar padrões de pensamento negativos que alimentam os sintomas.

Pratique técnicas de respiração e mindfulness

As técnicas de respiração e mindfulness são ferramentas simples, mas poderosas, para acalmar a mente em momentos de sobrecarga emocional. Praticar a respiração consciente — inspirando profundamente pelo nariz, retendo o ar por alguns segundos e expirando lentamente — ajuda a regular o sistema nervoso, reduzindo o ritmo cardíaco e a tensão muscular.

Já o mindfulness, ao treinar o foco no momento presente, permite que o indivíduo reconheça seus pensamentos ansiosos sem se apegar a eles, criando um espaço mental mais leve e equilibrado. Essas práticas são acessíveis, podem ser feitas em casa, e funcionam como uma âncora de tranquilidade em meio às incertezas da vida migratória.

Mantenha uma rotina de exercícios físicos

Exercitar o corpo também é uma forma de cuidar da mente. A prática regular de atividades físicas estimula a produção de neurotransmissores como endorfina e serotonina, que estão diretamente ligados à sensação de prazer, bem-estar e redução da ansiedade. Além disso, movimentar-se ajuda a liberar tensões acumuladas e melhora a qualidade do sono — outro fator frequentemente prejudicado pela ansiedade.

Para imigrantes, caminhar por novos bairros, praticar yoga em casa ou dançar músicas do país de origem também podem ser formas de se conectar consigo mesmo e com o novo ambiente de maneira saudável e energizante.

Estabeleça uma rede de apoio

O isolamento social é um dos gatilhos mais comuns para a ansiedade no processo migratório. Por isso, construir laços com outras pessoas — mesmo que aos poucos — pode ser um diferencial importante na adaptação emocional.

Manter contato com familiares e amigos do país de origem, conhecer outros imigrantes que compartilham experiências semelhantes ou participar de grupos culturais e redes de apoio são formas de se sentir acolhido e compreendido.

Uma rede de apoio oferece escuta, empatia e, muitas vezes, soluções práticas para os desafios do dia a dia, diminuindo a sensação de estar enfrentando tudo sozinho.

Respeite o processo de adaptação gradual à nova cultura

A adaptação cultural não acontece da noite para o dia. É um processo complexo que envolve aprendizados constantes, superação de frustrações e reestruturação de identidade. Respeitar seu tempo nesse processo é essencial. Permita-se errar, aprender e sentir — tudo isso faz parte da jornada de se reconstruir em um novo país.

Forçar uma integração total e imediata pode gerar mais angústia. Cada pequena conquista, como fazer uma compra no novo idioma ou entender uma piada local, é um passo importante. Reconhecer e celebrar esses avanços ajuda a transformar a experiência migratória em algo mais leve e significativo.

Conclusão

A ansiedade é uma condição que afeta milhões de pessoas no Brasil e no mundo. Seu crescimento exponencial está diretamente ligado ao estilo de vida moderno, às pressões sociais e às crises que impactam a sociedade. Para os imigrantes brasileiros, o processo migratório intensifica os desafios da ansiedade, criando um ambiente emocionalmente complexo. No entanto, existem estratégias eficazes que podem ajudar a lidar com a ansiedade e a garantir uma adaptação mais saudável à nova realidade.

Buscar ajuda profissional, adotar técnicas de relaxamento e estabelecer uma rede de apoio são passos importantes para gerenciar os sintomas e promover uma saúde mental equilibrada durante o processo migratório.

Entender a ansiedade e seus impactos é o primeiro passo para lidar com ela de forma eficaz. Para te ajudar nessa jornada, você pode contar com a Prô Mundo Psicologia. Oferecemos terapia online para brasileiros no exterior com uma equipe especializada nisso. Nosso time de psicólogas interculturais está preparado para te dar todo o suporte emocional necessário.

Além do atendimento psicológico, também criamos uma comunidade voltada para o bem-estar e o equilíbrio emocional dos nossos pacientes imigrantes. Pensamos em aspectos que vão além da terapia tradicional, como a redução do uso excessivo de redes sociais para manter a saúde mental, práticas integrativas como yoga e meditação, além de incentivar a construção de uma rede de apoio acolhedora. Tudo isso para que você se sinta mais conectado, equilibrado e amparado, mesmo longe de casa.

Entre em contato e agende um atendimento online.

Abraços virtuais!

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