Saúde Mental e Imigração

Como enfrentar os desafios profissionais e tomar boas decisões ao viver fora do seu país de origem

por Prô Mundo Psicologia | fev 12, 2025
Como enfrentar os desafios profissionais e tomar boas decisões ao viver fora do seu país de origem

Viajar, morar em um novo país ou explorar novas culturas vai além de uma simples mudança de endereço ou a busca por novos destinos turísticos.

Para imigrantes, nômades, expatriados e intercambistas, a experiência de viver fora é um processo complexo e multifacetado que exige adaptação não apenas ao novo estilo de vida, mas também à própria identidade profissional.

Se você se encontra em uma situação de insatisfação ou frustração com sua carreira neste contexto, é importante refletir sobre as mudanças que essa experiência pode trazer para o seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Este artigo tem como objetivo mostrar esses desafios profissionais e sugerir estratégias para lidar com as transformações que ocorrem quando nos distanciamos do nosso mercado de trabalho original.

A transformação da identidade profissional ao viver no exterior

A identidade profissional de uma pessoa é construída a partir das referências sociais, culturais e econômicas de seu país de origem. Quando nos mudamos para outro país, essas referências passam a se diluir, e isso pode gerar um impacto profundo na nossa trajetória profissional.

O que antes parecia claro e seguro, começa a perder o sentido, e a adaptação à nova realidade profissional exige um processo de desconstrução e reconstrução de nossa identidade no trabalho.

Novos horizontes: A exposição a outras culturas

Uma das principais formas de transformação da identidade profissional ao viver fora é a exposição a novos horizontes. Ao entrar em contato com uma cultura diferente, somos obrigados a reavaliar muitas das crenças e comportamentos que antes considerávamos naturais ou certos.

Essa mudança cultural nos permite olhar para o trabalho de uma perspectiva mais ampla, incorporando novas ideias, práticas e abordagens.

Por exemplo, um brasileiro que vive em um país onde o equilíbrio entre vida profissional e pessoal é mais valorizado pode começar a repensar a cultura do “trabalho duro” que é predominante no Brasil.

Em alguns países, como os países nórdicos, a ideia de que a produtividade está diretamente ligada à quantidade de horas trabalhadas é desafiada pela ênfase na qualidade do trabalho e no bem-estar do trabalhador.

Isso pode gerar um conflito interno, pois o profissional brasileiro pode se sentir inadequado ou preguiçoso por adotar uma abordagem mais equilibrada, mesmo que isso não signifique menor produtividade.

Esse choque de mentalidade pode ser desconfortável, mas também oferece uma oportunidade única de crescimento e transformação. Ao ampliar seu repertório cultural, você começa a perceber novas possibilidades de carreira, novas formas de ser reconhecido profissionalmente e novas maneiras de estabelecer relacionamentos dentro do ambiente de trabalho.

O estranho fora do ninho: A desconstrução das bases da identidade profissional

O segundo aspecto importante dessa transformação envolve a desestruturação das bases que sustentavam sua identidade profissional.

Quando vivemos em nosso país de origem, nosso autoconceito, os papéis sociais que desempenhamos e as habilidades que possuímos são frequentemente validados pelo contexto cultural em que estamos inseridos.

No entanto, ao migrar para outro país, essas bases começam a ser questionadas.

Se você sempre foi reconhecido como um bom comunicador, mas se encontra em um novo ambiente onde a comunicação é mais direta ou formal, essa característica pode não ser mais tão valorizada.

Ou ainda, se você se sentia valorizado por um cargo de status em sua terra natal, mas em outro país esse status não faz sentido, isso pode gerar uma crise de identidade profissional.

Muitas vezes, a sensação de não ser mais competente ou valioso no mercado de trabalho pode surgir, o que intensifica o processo de desconstrução da identidade profissional.

Essa desconstrução não é algo negativo por si só, mas deve ser entendida como uma oportunidade de reinvenção. Quando as bases antigas começam a desmoronar, surge a chance de construir uma nova identidade profissional mais alinhada com o contexto globalizado e as novas influências culturais.

O impacto da cultura brasileira nas carreiras internacionais

Para muitos brasileiros, a mentalidade de que “crescer na vida” exige esforço extremo ou que o sucesso profissional depende de uma luta constante, é uma referência forte e profundamente enraizada.

Essa visão molda nossa identidade profissional e nos leva a valorizar imagens culturais de trabalho árduo, muitas vezes em detrimento do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

No entanto, ao se mudar para outro país, onde o conceito de sucesso no trabalho pode ser mais relacionado ao equilíbrio e ao bem-estar do trabalhador, essa mentalidade pode entrar em choque.

O conflito cultural: O que é ser um “bom trabalhador”?

Quando os brasileiros se deparam com uma cultura que valoriza o equilíbrio, podem surgir sentimentos de inadequação, insegurança e, até mesmo, de incompetência.

Se, no Brasil, o esforço contínuo e a disposição para trabalhar mais horas são vistos como sinais de competência, em outros países, como a Alemanha, o conceito de um “bom trabalhador” pode envolver uma gestão mais eficiente do tempo, com ênfase na qualidade do trabalho, no descanso e no bem-estar.

Esse conflito cultural pode gerar questionamentos internos, como: “Será que estou sendo eficiente o suficiente?” ou “Será que a forma como trabalho é compatível com os padrões daqui?” Isso pode levar a sentimentos de frustração e insegurança, especialmente para aqueles que se baseiam fortemente em uma cultura de trabalho mais tradicional e intensa.

Competências interculturais: A chave para a adaptação

Para lidar com essas diferenças e encontrar um meio-termo que permita uma adaptação mais saudável, o desenvolvimento de competências interculturais é essencial.

Essas competências envolvem a capacidade de compreender, respeitar e adaptar-se a diferentes contextos culturais de trabalho. Ao investir em uma educação intercultural e aprender a perceber as diferenças de forma construtiva, o imigrante ou nômade digital pode reduzir os conflitos internos e tornar-se mais consciente das dinâmicas profissionais do novo país.

Os programas de treinamento em competências interculturais são extremamente úteis, pois ajudam a entender que não há um único modelo de sucesso profissional.

Cada cultura tem seus próprios parâmetros de avaliação e valorização, e é possível encontrar um equilíbrio entre essas diferentes expectativas, ajustando-se sem perder de vista os próprios valores e propósitos.

A teoria de Gottfredson: A construção da identidade profissional

Linda Gottfredson, psicóloga que desenvolveu a Teoria da Circunscrição e Compromisso, explica como a identidade profissional é formada ainda na infância.

Segundo Gottfredson, começamos a desenvolver nossa identidade profissional com base nas expectativas de nossa família, comunidade e contexto social.

A partir disso, muitas opções de carreira são descartadas precocemente, com base em fatores como gênero, status social e normas culturais.

Quando um expatriado ou nômade decide se afastar de seu ambiente original, ele pode se deparar com a necessidade de revisar todas essas expectativas que foram internalizadas ao longo da vida. A desconstrução da identidade profissional, portanto, é uma consequência direta dessa mudança de contexto.

Desconstrução e reinvenção da carreira

A boa notícia é que a teoria de Gottfredson também aponta que a identidade profissional não é rígida. Ela pode ser remodelada à medida que novas experiências são vividas e novos horizontes são explorados.

Ao se mudar para um novo país, o imigrante tem a oportunidade de questionar as crenças que limitavam suas opções de carreira e expandir sua visão sobre o que é possível alcançar. Esse processo de desconstrução pode ser desafiador, mas também pode abrir portas para novas formas de realização profissional.

Uma pessoa que sempre se considerou limitada a uma carreira em uma área específica pode, ao entrar em contato com novas culturas e práticas profissionais, descobrir habilidades e interesses que antes não havia considerado. Isso permite que a pessoa explore novas áreas de atuação, ampliando suas possibilidades profissionais.

Como construir uma carreira de sucesso em um novo contexto

Após passar pelo processo de adaptação e desconstrução da identidade profissional, é essencial construir uma nova carreira que faça sentido dentro do novo contexto cultural.

Para isso, é importante refletir sobre o que o trabalho significa para você e como suas experiências podem contribuir para um futuro profissional mais satisfatório.

Mulher bem sucedida segurando tablet e andando na rua

O propósito do trabalho: Mais do que renda, uma forma de pertencimento

O trabalho é muito mais do que uma forma de gerar renda; ele é parte integrante da nossa identidade e da forma como nos conectamos ao mundo.

O trabalho oferece pertencimento, oportunidades de desenvolvimento e muitas vezes um senso de propósito. Quando nos dedicamos a uma atividade que tem significado para nós, estamos, na verdade, construindo uma parte fundamental da nossa vida.

Quando nos mudamos para outro país, a percepção do trabalho pode mudar radicalmente. Em vez de apenas trabalhar para garantir a sobrevivência, o imigrante ou nômade digital deve buscar um trabalho que esteja alinhado aos seus valores, interesses e propósitos.

A carreira passa a ser vista não apenas como uma fonte de renda, mas como uma extensão da nossa própria identidade.

A carreira como uma narrativa pessoal

A construção de uma carreira é um processo contínuo que envolve dar sentido às nossas experiências ao longo da vida. Para muitos imigrantes e nômades digitais, o trabalho é uma extensão da sua história pessoal e de suas vivências.

Cada fase da carreira contribui para a construção de uma narrativa única, que reflete nossas escolhas, erros, sucessos e aprendizados.

4 Conselhos para lidar com as mudanças na carreira

Lidar com as mudanças na carreira é um processo complexo que exige reflexão, paciência e coragem.

1. Toda mudança leva tempo

Mudanças de carreira exigem tempo para que se tornem sustentáveis e eficazes. Ao tomar decisões profissionais importantes, é preciso ter paciência.

Pode parecer difícil abandonar algo que já foi construído, mas é importante lembrar que a transição faz parte de um processo de evolução.

O tempo médio de vida de trabalho é de aproximadamente 45 anos, e uma transição de carreira que dure alguns anos representa apenas uma pequena parte dessa jornada.

2. O tempo importa menos quando há progresso

Quando estamos em movimento em direção a um propósito maior, o tempo deixa de ser uma preocupação. O progresso pessoal e profissional se torna o objetivo principal.

Isso não significa que mudanças radicais sejam necessárias, mas sim que podemos adotar novos hábitos e estratégias que nos ajudem a caminhar em direção a nossos objetivos de forma mais orgânica e satisfatória.

3. Uma história de valor constrói um trabalho de valor

Ao olhar para a carreira como uma história pessoal, começamos a perceber que o trabalho é uma expressão de quem somos. Quando entendemos o valor das nossas experiências passadas e as conectamos ao presente, conseguimos criar uma trajetória profissional mais autêntica e significativa.

4. Disciplina e desapego são essenciais

No caminho da reinvenção profissional, a disciplina e o desapego são fundamentais. A disciplina nos ajuda a manter o foco em nosso autodesenvolvimento, enquanto o desapego nos permite lidar com as incertezas e imprevistos sem perder o rumo.

Em ambientes instáveis, essas qualidades nos permitem navegar pelas adversidades com mais serenidade e clareza.

Competências essenciais para a construção de uma carreira

Para construir uma carreira sólida e alinhada com nossos objetivos e valores, é necessário desenvolver uma série de competências. Essas competências são a base para navegar com sucesso no mercado de trabalho, mesmo diante das incertezas que caracterizam o cenário atual.

Mulher sentada em uma mesa com notebook e bloco de anotações fazendo planejamento

Autoconhecimento

O primeiro passo para uma carreira bem-sucedida é o autoconhecimento. Saber quem você é, o que valoriza e quais são suas paixões e habilidades é fundamental para tomar decisões profissionais alinhadas com seus valores.

Ferramentas como mapas de competências podem ser úteis para identificar suas fortalezas e áreas que necessitam de desenvolvimento.

Planejamento

Planejar sua carreira envolve definir metas claras de curto, médio e longo prazo. É essencial criar estratégias realistas, considerando as tendências do mercado e as oportunidades disponíveis.

O planejamento deve ser flexível, permitindo ajustes conforme novas informações e circunstâncias surgem.

Comunicação e visibilidade

Saber comunicar suas ideias e construir uma rede de contatos sólida é essencial para abrir portas profissionais. A visibilidade no mercado de trabalho é fundamental, e isso pode ser alcançado participando de eventos, fazendo mentorias e interagindo com outros profissionais da área.

Exploração e adaptabilidade

O mercado de trabalho está em constante evolução, e a capacidade de explorar novas possibilidades e se adaptar a mudanças é crucial. Aprender novas competências, explorar diferentes áreas e estar aberto ao aprendizado contínuo são habilidades essenciais para garantir a relevância profissional em um cenário globalizado.

Conclusão

A transição de carreira, especialmente em um novo contexto cultural, pode ser desafiadora, mas também é uma oportunidade para se reinventar e crescer.

Adotando uma abordagem consciente e planejada, é possível transformar as dificuldades em um processo de aprendizado contínuo, construindo uma carreira mais alinhada aos seus valores e ao seu propósito de vida.

Abraços virtuais da Prô Mundo!

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