Do Brasil para brasileiros…
Eu não sou atleta e não posso mensurar qual o peso de responsabilidade que eles levam na última respirada que dão antes da largada para o início de suas provas. Eles carregam uma bagagem que contém: a expectativa criada por eles e por muitos outros à sua volta, os anos de treinamento e dedicação, a auto cobrança, e a sua história de vida repleta de tantos outros desafios que tornaram a missão de estar ali ainda mais árdua.
Esta, apesar de parecer muito específica e particular, representa de um modo geral a história de muitos brasileiros que precisaram enfrentar barreiras para algum dia também estar na véspera de realizar aquilo que pode ser o “maior feito” de sua vida.
Nessa bagagem, o atleta também leva todas as suas referências de superação, de segurança, de garra, e essas referências vão desde seus familiares mais próximos aos ídolos que fizeram eles acreditarem que era possível. E quem está acompanhando esse atleta, brasileiros vivendo em qualquer canto do mundo, torce avidamente por aquele que (ele sabe) já passou por situações semelhantes à sua.
O brasileiro não torce pelo Brasil nas Olimpíadas, ele torce por outro brasileiro. Desconfie daqueles que não o fizerem. Ele pode ter todos os motivos para criticar seu país de origem, pode inclusive ter deixado o país para viver em outro lugar por isso. Mas ele torce pelos seus, pois consegue ser empático à situação vivida ali. Ele sabe que foi preciso resiliência, persistência e coragem. E o que muitas vezes não sabem é que essas mesmas características o fazem ser diferenciado entre outros povos.
São diferentes as situações que levam o brasileiro a viver no exterior – algumas de maior privilégio, outras de maior empenho. Mas independente da situação, a dor da distância, da transformação e do sentimento de abandono é a mesma. E é essa dor que os uni a torcer pelos atletas brasileiros presentes em cada competição.
Três, dois, um… após a última respirada, o atleta precisa deixar tudo que pesa para trás. Durante alguns minutos, ele precisa levar apenas as boas referências e se jogar naquela vivência que representa talvez o acontecimento mais incrível vida dele. E, se ele sente que não vai ser assim, que possa também ter a liberdade de não competir. Esse é o momento que rompe com a expectativa alheia e se coloca como protagonista da própria vida – “Qual o sentido disso para mim?”
A vivência no exterior é um convite constante a olhar para dentro, revisar a própria bagagem, eliminar os pesos e se entregar para a experiência, seja ela de ficar, seja ela de voltar, seja ela de ir e voltar, seja ela de mudar. E talvez só outro brasileiro vai entender o que você precisou abdicar e quais são as suas batalhas. E está tudo bem! Você mesmo precisa lembrar que está concorrendo ao ouro e o brilho dele precisa ser o mesmo que você carrega nos olhos. Valorize suas origens, valorize sua jornada!