
Enquanto muitos choravam no final de Titanic, inconformados com a partida de Jack, minha atenção estava na sequência de fotos no final do filme, mostrando que Rose fizera todas as aventuras pelo mundo que havia combinado de fazer com ele. Detalhe que pode ter passado desapercebido aos olhos de alguns, mas não dos meus.
Não muito tempo atrás, uma mulher viajando sozinha era algo raro de se ver. Lembro quando ouvia as histórias de meninos que faziam eurotrip e pensava: que sonho. Ainda bem que os tempos mudaram e hoje eu posso escrever sobre as minhas experiências de viagem, ainda com meus 30 e poucos anos de idade.
Lá no velho continente, essa é uma prática mais comum do que possa parecer para nós. Faz parte do costume, é cultural. Talvez não fosse algo para a gente por alguns motivos: localização geográfica, linguagem, vulnerabilidade social… mas, mais do que isso, me lembro de sempre ouvir que viajar era um luxo. E nunca me disseram o quanto uma viagem pode influenciar no desenvolvimento pessoal de uma pessoa, até ter minha primeira vivência.
Hoje essa crença tem mudado, e somos responsáveis por essa mudança e como ela vai perpetuar no futuro. Costumo dizer que viajar é fazer uma jornada para dentro da gente. E viajar sozinha pode nos ensinar coisas sobre nós mesmas que, possivelmente, levaríamos muito mais tempo para nos dar conta dentro do nosso “mundinho”.
Viajar sozinha é ter que fazer um planejamento sabendo que pode dar errado; é ter plano A, B e C; é perceber como a gente lida com o novo e com o imprevisível; é ter força, coragem e determinação; é conhecer os próprios limites.
Viajar desafia as emoções; desconstrói as raízes para acharmos outras fontes para se nutrir. É ver coisas que não tem como registrar; falar com estranhos como se fossem amigos de infância; viver cada momento. Questionar sobre o certo e o errado.
É dar-se conta de que não sabe se definir, porque viver é se reconstruir, é morrer várias vezes com a oportunidade de nascer de novo, diferente, em uma melhor versão.
Mas mais importante que tudo isso, viajar sozinha é quebrar paradigmas. Mostrar a si mesma (e à sociedade) que é capaz, que pode lutar por seus sonhos, e que não tem o destino predefinido. É ver com os próprios olhos a dimensão do mundo e não se restringir a uma parte dele.
É muito cômodo imaginarmos as coisas, sentadas no sofá de nossa casa. Então eu contradigo qualquer um que ainda ache que viajar é um luxo, pois é uma necessidade. Nos permite sair da zona de conforto de nossas mentes, quebrar com nossas concepções de dependência e fragilidade.
Por mais triste que seja a história, para mim a Rose teve um final feliz.